Layout do blog

Como o mercado imobiliário deve se mover com a reviravolta nos juros globais

July 23, 2024

Expectativas otimistas do começo de 2024 mudaram significativamente ao longo do 1º semestre, mas arrisco dizer que existem boas oportunidades nos FIIs. Especialmente em shoppings e galpões logísticos.

No início de 2024, 
trouxe neste espaço expectativas otimistas para o Brasil e especificamente para o setor imobiliário. Havia, naquele cenário, alguns elementos importantes para o otimismo, que em parte persistem, mas o principal era a expectativa do mercado de que estávamos entrando em um horizonte de queda duradoura da taxa básica de juros. E, neste caso, o panorama mudou significativamente ao longo do primeiro semestre.

O contexto macroeconômico se mostrou mais turbulento do que o esperado. No início do ano, havia a expectativa de um controle mais rígido dos gastos públicos, uma queda nos juros dos Estados Unidos e um governo brasileiro alinhado com o mercado financeiro. Mas o que se viu foi o contrário: declarações controversas e contraditórias do governo, aumento dos gastos públicos e a manutenção dos juros americanos em patamares historicamente altos.

O mercado imobiliário, principalmente o de moradia e dos FIIs (fundos imobiliários), é altamente sensível às taxas altas de juros, já que a compra do seu produto acontece majoritariamente: 1. por meio do crédito no caso dos residenciais e 2. visando a renda no caso dos FIIs. Com juros elevados, menos pessoas têm capacidade de adquirir imóveis e os bancos tornam-se mais restritivos e seletivos nas concessão do crédito. O resultado é um número menor de compradores potenciais e a redução no poder aquisitivo de quem permanece ativo no mercado. Ou seja, mesmo quem segue disposto a fazer negócio passa a procurar oportunidades de menor valor.


Mas, apesar da descrição desconsoladora do impacto do novo cenário macroeconômico, o setor imobiliário se beneficia de uma característica singular: está presente em todas as atividades econômicas, o que permite que oportunidades surjam razoavelmente descoladas da conjuntura predominante. Vou elencar algumas dessas possibilidades, que é para onde quem tem interesse nesse setor deve olhar nos próximos meses.

Com a renda fixa permanecendo mais atraente, manter o ritmo de expansão no mercado imobiliário é um desafio. O mercado precisa de financiamento, mas, com juros altos, a classe média, que é o principal motor do setor, está cada vez mais excluída. A indústria tem buscado maior eficiência no ciclo produtivo, mas essa estratégia já atingiu seu limite. Como alternativa, as incorporadoras têm migrado para o segmento de altíssimo padrão, em que o financiamento não é uma necessidade premente e o investidor tem buscado segmentos que se descolam da conjuntura vigente.

Outro ponto importante a ser olhado ainda são os fundos imobiliários. O desempenho do IFIX (Índice de fundos imobiliários) estável é, na verdade, um resultado que considero sofrível. Logo, arrisco dizer que os FIIs já estão com preços descontados diante de uma renda fixa atrativa, com pouco espaço para pioras significativas. Não é uma tarefa simples, mas existem boas oportunidades, especialmente em segmentos como shoppings e galpões logísticos. E, mesmo com o cenário macro desfavorável, há ativos que ainda podem oferecer bons retornos.

Outro exemplo são os data centers, aposta do mercado imobiliário que vem se consolidando ao longo do ano. 
Já tratei desse tema também aqui nesta coluna. O Brasil tem condições naturais, geográficas e energéticas favoráveis e é rico no ponto mais sensível que um projeto de data center necessita: a oferta de energia. Além disso, não há nenhum sinal de desaceleração na demanda mundial por espaço para armazenar e processar o crescimento geométrico de dados gerados diariamente.

Como último ponto, cito o cenário geopolítico global, marcado pelo desalinhamento ideológico e estratégico entre o Ocidente e países como China e Rússia. Do ponto de vista prático isso pode acelerar um deslocamento dos eixos produtivos globais. Explico: especialmente estados do Norte e do Nordeste brasileiro, que estão mais próximos aos centros de consumo da Europa e dos Estados Unidos, têm potencial para se tornar uma alternativa aos atuais polos de produção de bens de consumo, bens duráveis e bens industriais. O setor imobiliário poderá ser impactado de forma positiva para atender esta nova demanda e reorganização produtiva mundial.

Um exemplo de país que já entendeu este cenário e vem se beneficiando é o México – e, mais recentemente, a Argentina. Na América Central vale destacar a quieta Guatemala, que já se tornou o principal centro de distribuição naquela região. Por lá, os resultados já começaram a aparecer no setor imobiliário. Segundo dados levantados pela SiiLA, empresa de inteligência de mercado com foco no mercado latino americano, a taxa de vacância de imóveis nestes países é inferior a 5%. Quando olhamos para logística, essa taxa cai para patamares próximos a 2%.

Em tempos de cenário macroeconômico desafiador, as oportunidades estratégicas são as que podem abrir novas perspectivas para o desenvolvimento do setor imobiliário. Vamos torcer para o Brasil não perder esta oportunidade.

July 23, 2024

Sumário


Por Itrês Stretegic 24 de janeiro de 2025
Com a crescente demanda por energia e terrenos adequadas para grandes projetos de dados, o próspero setor de datacenters brasileiro tem testemunhado o surgimento de novas empresas buscando oportunidades e oferecendo serviços no setor, entre elas as imobiliárias especializadas. Nos últimos meses, novos players, bem como empresas estabelecidas tradicionalmente envolvidas na prospecção, aquisição e preparação de terrenos para venda a outros setores do mercado, começaram a mirar os datacenters como um novo nicho de negócios. A Aurea Finvest, por exemplo, estabeleceu uma equipe dedicada para esse tipo de operação. Em dezembro de 2024, a empresa solidificou ainda mais sua posição ao concluir a venda para a Tecto Data Centers – pertencente à V.tal – de um lote pronto para acomodar um dos maiores projetos de datacenter do país, com capacidade de 200 MW. Mais recentemente, ela anunciou a disponibilidade de uma área de 500.000 m² com capacidade para suportar até 800 MW de projetos envolvendo datacenters. Conforme noticiado pela BNamericas, a empresa também está levantando capital privado para complementar seus recursos financeiros existentes. Nesta entrevista, Marcelo Hannud, CEO e cofundador da Aurea Finvest, conversou sobre esse investimento no grupo e como a empresa faz negócios. BNamericas : Como surgiu a aposta da Aurea Finvest para o setor de datacenters? Hannud : A Áurea Finvest é a junção de duas iniciativas no mercado imobiliário. De um lado, a Finvest, que era comandada por profissionais muito experientes em financiamento imobiliário, e de outro a Aurea. O Luis Cláudio [ex-Pactual e criador da Rio Bravo investimentos e da RB Capital] era o cara por trás da Finvest. A criação do CRI [securitização de ativos imobiliários] para aluguel no Brasil é algo que veio dele. Foi ele que conseguiu com que a CVM aprovasse isso. Esse foi o grande divisor de águas no Brasil para financiamento de projetos imobiliários. Eu estava sempre do outro lado da mesa. A gente sempre esteve no lado do desenvolvimento, originação do terreno, aprovação de licenças... enfim, toda a esteira física do processo. Nossa relação vem de muitos anos, mas em mundos apartados. O Luis Cláudio vendeu a RB Capital, sua última empresa, há uns seis anos. Ele me chamou e falou “a gente sempre trabalhou junto, porém de lados opostos. Vamos nos juntar e fazer uma empresa de desenvolvimento imobiliário, já com os mecanismos, com as ferramentas financeiras”. Aí surgiu a Aurea Finvest. A Aurea Finvest tem vários segmentos do mercado imobiliário. Fizemos grandes movimentos na área de logística e de prédios comerciais, mas sempre muito em off. Operamos por trás das cortinas. E agora, em datacenters. Vimos uma grande oportunidade aí. Eu diria que a nossa grande vantagem é ser multidisciplinar e poder direcionar o canhão para aquele segmento que está mais, pujante naquele momento. BNamericas : Quando se deu isso? Hannud : Há uma questão de três anos, estávamos no fim da pandemia. Vimos uma movimentação grande no sentido de incremento da necessidade de potência, de capacidade. A gente veio acompanhando esse mercado, entendendo as mudanças, olhando esses movimentos fora do Brasil. Vimos a implementação da Scala, a venda da Odata... e começamos a entender que essa dinâmica estava muito forte. Decidimos, com a nossa expertise em real estate e financeiro, mergulhar nisso. BNamericas : No modelo de negócios da Aurea Finvest, vocês preparam o terreno e o vendem para uma empresa de datacenter? Hannud : Localizamos, identificamos, compramos o terreno e o regularizamos. Fazemos todas as aprovações e licenças no âmbito civil e no elétrico, de conexão com a rede de energia. Enfim, o deixamos pronto para receber um projeto de datacenter de grande porte. Ao iniciarmos todo esse processo antes, ganhamos muito tempo. A empresa de datacenter ganha agilidade para estruturar o site e lançar em uma janela de tempo menor. É uma estratégia agressiva. Gastamos somas consideráveis para comprar o terreno, fazer os projetos, pagar o volume. A gente inclusive projeta uma curva de consumo de energia para poder alocar essa energia dentro da empresa transmissora. Com isso, tenho o pacote 90% pronto. O que precisamos fazer é pegar esse pacote e customizar para o meu inquilino. BNamericas : A gente sabe que datacenter tem uma demanda de capacidade de energia, inclusive ao longo do tempo, que depende muito do próprio inquilino do site. Quando você diz que projeta e estima a curva, você já tem o seu cliente antes, ou faz tudo primeiro e depois busca um cliente? Hannud : Eu faço uma estrutura. Digamos, um boneco. Primeiro a gente o monta e depois eu posso colocar o boneco mais para cima, para baixo, arrumar o nariz, colocar o cabelo etc., ou seja, eu deixo todos os pontos críticos equacionados e depois, indo ao mercado, faço ajustes. BNamericas : Portanto, há uma possibilidade de, após terem comprado o terreno, preparado, feito toda a regularização e as licenças, vocês não encontrarem o cliente, ou demorarem para fazê-lo. Hannud : É o risco do negócio. Porém, para mitigar este risco, temos uma equipe comercial e bastante profissional ativa, que em paralelo vai prospectando junto ao mercado 24 horas por dia. Além do mais, também fazemos estudos de demanda, de mercado. Enquanto estamos prospectando novos terrenos, vendo onde é o melhor lugar para projetos de datacenter, e fazendo trabalho de base – até com prefeitos –, nosso outro time vai prospectando o que já temos. Eles vão para cima na outra ponta. “Olha, estou com uma área X que tem disponibilidade para 400 MW e com determinadas características que podem ser muito interessantes para o seu negócio.” BNamericas : Foi assim com a V.tal? Hannud : Eles estão entrando nesse mercado com os grandes e viram nosso empreendimento com grande satisfação. Eles se surpreenderam. “Não é possível que você tenha isso pronto, esta pepita de ouro.” A parceria fluiu super bem. A gente tinha vários possíveis parceiros para esse terreno, mas não conseguimos atender a todos. A nossa relação com o BTG Pactual [cujos fundos controlam a V.tal] é muito antiga também, o que ajudou. BNamericas : Neste momento, vocês têm basicamente a V.tal de cliente na área de datacenter, certo? Hannud : Certo. A V.tal é um grande cliente. Fora isso, hoje temos 1,4 GW em projetos de terrenos imobiliários, em diferentes lugares, preparados e prontos. BNamericas : O modelo de negócios de vocês, de prospectar, comprar, preparar e vender o terreno para datacenter, é parecido com o de outras empresas que estão entrando nesse jogo? Como o da Supernova, em parceria com a Mapa Investimentos? Hannud : Eles fazem algo muito parecido com a gente. Diria que a única diferença é que eles não têm um background imobiliário tão forte e uma expertise tão estruturada como a gente. BNamericas : A Mapa Investimentos tem vários projetos imobiliários... Hannud : Sim, eles sempre foram um grande investidor, fizeram grandes projetos como investimento. Mas nós somos mais executores. A gente faz, executa, cria o projeto. É um passo além. BNamericas : O que já se pode dizer do terreno de 800 MW em Sumaré? Hannud : Estamos chamando esse projeto de Data City. É um nome interno, provisório, algo que costumamos fazer para cada projeto. Estou em viagens frequentes, dentro e fora do Brasil, para conversas com potenciais clientes hyperscalers, inclusive em parceria com potenciais operadores.
Por Itrês Stretegic 23 de janeiro de 2025
Projeto é da Aurea Finvest, que já tem terreno de 680 mil m2 para a central; parecer de acesso à rede básica deve sair até o fim do ano
Share by: