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Perda de espaço da poupança no financiamento imobiliário pode ajudar mercado brasileiro

May 16, 2024

Ao observarmos modelos consolidados em países como os EUA, podemos vislumbrar o potencial de uma integração mais estreita entre o mercado financeiro e o setor imobiliário brasileiro.

O cenário do financiamento imobiliário no Brasil passa por um momento de transformação profunda, impulsionado por mudanças nas fontes de captação de recursos e nas possibilidades geradas por novas tendências de investimentos no país.

A tradicional caderneta de poupança vem perdendo terreno como principal fornecedora de capital para o setor, com a redução nos depósitos e o aumento dos saques sinalizando um declínio ainda maior dessa modalidade de investimento. Em 2023, os brasileiros retiraram cerca de R$ 88 bilhões da poupança.

Dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) demonstram como instrumentos de financiamento privado têm ocupado o espaço deixado pela poupança no funding do setor.

Em 2021, a poupança era responsável por 46% do funding imobiliário, mas encerrou 2023 com uma participação de 34%. Já os instrumentos de financiamento privado, como certificados de recebíveis imobiliários (CRI), fundos imobiliários (FII), letras de crédito imobiliário (LCI) e letras imobiliárias garantidas (LGI), aumentaram a participação de 27%, em 2021, para 40%, em 2023.

A migração para o mercado de capitais surge como um caminho inevitável – além de ser uma evolução saudável. Em primeiro lugar, porque ao usarmos a poupança, que ainda é o principal destino dos recursos da maior parte da população, temos o dinheiro dos mais pobres custeando os grandes projetos imobiliários.

O segundo sinal de que a transformação no cenário de financiamento segue um caminho de maturidade é a necessidade de o setor imobiliário se adequar às exigências impostas pelos players do mercado de capitais. Como a indústria financeira tem entre suas principais características ser extremamente regulada e contar com profissionais com alta capacidade de análise, caberá aos desenvolvedores imobiliários estruturarem projetos com padrões cada vez mais elevados de governança e solidez no modelo de negócio.


É essencial que o mercado imobiliário promova credibilidade e transparência para atrair os investidores. Os desenvolvedores imobiliários com estruturas mais robustas vão desempenhar um papel vital nesse processo, fornecendo oportunidades de investimento estruturadas e bem embasadas.


Como consequência, investidores de diferentes tamanhos passarão a ter capacidade de participar desse mercado, democratizando o acesso ao setor. Os atuais instrumentos oferecidos pela indústria de capitais, como os CRIs e as LCIs, já cumprem esse papel. E iniciativas de simplificação e transparência de regulamentações têm a capacidade de fomentar ainda mais alternativas.


Foi o que aconteceu recentemente com a resolução nº 5.118, de 1 de fevereiro de 2024, do Conselho Monetário Nacional (CMN), que proíbe emissões desses títulos com lastro em títulos de dívida emitidos por companhias de capital aberto não relacionadas ao setor imobiliário. Se por um lado há a possibilidade de reduzir a oferta desse tipo de título, por outro, favorece a captação por empresas que realmente são do setor.


Ao observarmos modelos consolidados em países como os Estados Unidos, podemos vislumbrar o potencial de uma integração mais estreita entre o mercado financeiro e o setor imobiliário brasileiro. O desenvolvimento de novos projetos e empreendimentos nos Estados Unidos já é feito com a modelagem necessária para acessar os recursos provenientes do mercado de capitais. Como consequência, é um setor bem mais resiliente a oscilações econômicas que os demais.


O futuro do nosso setor está intrinsecamente ligado ao mercado de capitais. Com uma abordagem transparente, regulamentada e acessível, esse modelo pode impulsionar o desenvolvimento imobiliário, beneficiar investidores, players do mercado e consumidores. É urgente olharmos para essa agenda e ajustar o ambiente para que a transição tenha como desfecho o melhor aproveitamento do novo cenário, marcado por múltiplas fontes de recursos, mais acessível para o setor imobiliário e com oportunidades para investidores de qualquer tamanho.

May 16, 2024

Sumário


Por Itrês Stretegic 24 de janeiro de 2025
Com a crescente demanda por energia e terrenos adequadas para grandes projetos de dados, o próspero setor de datacenters brasileiro tem testemunhado o surgimento de novas empresas buscando oportunidades e oferecendo serviços no setor, entre elas as imobiliárias especializadas. Nos últimos meses, novos players, bem como empresas estabelecidas tradicionalmente envolvidas na prospecção, aquisição e preparação de terrenos para venda a outros setores do mercado, começaram a mirar os datacenters como um novo nicho de negócios. A Aurea Finvest, por exemplo, estabeleceu uma equipe dedicada para esse tipo de operação. Em dezembro de 2024, a empresa solidificou ainda mais sua posição ao concluir a venda para a Tecto Data Centers – pertencente à V.tal – de um lote pronto para acomodar um dos maiores projetos de datacenter do país, com capacidade de 200 MW. Mais recentemente, ela anunciou a disponibilidade de uma área de 500.000 m² com capacidade para suportar até 800 MW de projetos envolvendo datacenters. Conforme noticiado pela BNamericas, a empresa também está levantando capital privado para complementar seus recursos financeiros existentes. Nesta entrevista, Marcelo Hannud, CEO e cofundador da Aurea Finvest, conversou sobre esse investimento no grupo e como a empresa faz negócios. BNamericas : Como surgiu a aposta da Aurea Finvest para o setor de datacenters? Hannud : A Áurea Finvest é a junção de duas iniciativas no mercado imobiliário. De um lado, a Finvest, que era comandada por profissionais muito experientes em financiamento imobiliário, e de outro a Aurea. O Luis Cláudio [ex-Pactual e criador da Rio Bravo investimentos e da RB Capital] era o cara por trás da Finvest. A criação do CRI [securitização de ativos imobiliários] para aluguel no Brasil é algo que veio dele. Foi ele que conseguiu com que a CVM aprovasse isso. Esse foi o grande divisor de águas no Brasil para financiamento de projetos imobiliários. Eu estava sempre do outro lado da mesa. A gente sempre esteve no lado do desenvolvimento, originação do terreno, aprovação de licenças... enfim, toda a esteira física do processo. Nossa relação vem de muitos anos, mas em mundos apartados. O Luis Cláudio vendeu a RB Capital, sua última empresa, há uns seis anos. Ele me chamou e falou “a gente sempre trabalhou junto, porém de lados opostos. Vamos nos juntar e fazer uma empresa de desenvolvimento imobiliário, já com os mecanismos, com as ferramentas financeiras”. Aí surgiu a Aurea Finvest. A Aurea Finvest tem vários segmentos do mercado imobiliário. Fizemos grandes movimentos na área de logística e de prédios comerciais, mas sempre muito em off. Operamos por trás das cortinas. E agora, em datacenters. Vimos uma grande oportunidade aí. Eu diria que a nossa grande vantagem é ser multidisciplinar e poder direcionar o canhão para aquele segmento que está mais, pujante naquele momento. BNamericas : Quando se deu isso? Hannud : Há uma questão de três anos, estávamos no fim da pandemia. Vimos uma movimentação grande no sentido de incremento da necessidade de potência, de capacidade. A gente veio acompanhando esse mercado, entendendo as mudanças, olhando esses movimentos fora do Brasil. Vimos a implementação da Scala, a venda da Odata... e começamos a entender que essa dinâmica estava muito forte. Decidimos, com a nossa expertise em real estate e financeiro, mergulhar nisso. BNamericas : No modelo de negócios da Aurea Finvest, vocês preparam o terreno e o vendem para uma empresa de datacenter? Hannud : Localizamos, identificamos, compramos o terreno e o regularizamos. Fazemos todas as aprovações e licenças no âmbito civil e no elétrico, de conexão com a rede de energia. Enfim, o deixamos pronto para receber um projeto de datacenter de grande porte. Ao iniciarmos todo esse processo antes, ganhamos muito tempo. A empresa de datacenter ganha agilidade para estruturar o site e lançar em uma janela de tempo menor. É uma estratégia agressiva. Gastamos somas consideráveis para comprar o terreno, fazer os projetos, pagar o volume. A gente inclusive projeta uma curva de consumo de energia para poder alocar essa energia dentro da empresa transmissora. Com isso, tenho o pacote 90% pronto. O que precisamos fazer é pegar esse pacote e customizar para o meu inquilino. BNamericas : A gente sabe que datacenter tem uma demanda de capacidade de energia, inclusive ao longo do tempo, que depende muito do próprio inquilino do site. Quando você diz que projeta e estima a curva, você já tem o seu cliente antes, ou faz tudo primeiro e depois busca um cliente? Hannud : Eu faço uma estrutura. Digamos, um boneco. Primeiro a gente o monta e depois eu posso colocar o boneco mais para cima, para baixo, arrumar o nariz, colocar o cabelo etc., ou seja, eu deixo todos os pontos críticos equacionados e depois, indo ao mercado, faço ajustes. BNamericas : Portanto, há uma possibilidade de, após terem comprado o terreno, preparado, feito toda a regularização e as licenças, vocês não encontrarem o cliente, ou demorarem para fazê-lo. Hannud : É o risco do negócio. Porém, para mitigar este risco, temos uma equipe comercial e bastante profissional ativa, que em paralelo vai prospectando junto ao mercado 24 horas por dia. Além do mais, também fazemos estudos de demanda, de mercado. Enquanto estamos prospectando novos terrenos, vendo onde é o melhor lugar para projetos de datacenter, e fazendo trabalho de base – até com prefeitos –, nosso outro time vai prospectando o que já temos. Eles vão para cima na outra ponta. “Olha, estou com uma área X que tem disponibilidade para 400 MW e com determinadas características que podem ser muito interessantes para o seu negócio.” BNamericas : Foi assim com a V.tal? Hannud : Eles estão entrando nesse mercado com os grandes e viram nosso empreendimento com grande satisfação. Eles se surpreenderam. “Não é possível que você tenha isso pronto, esta pepita de ouro.” A parceria fluiu super bem. A gente tinha vários possíveis parceiros para esse terreno, mas não conseguimos atender a todos. A nossa relação com o BTG Pactual [cujos fundos controlam a V.tal] é muito antiga também, o que ajudou. BNamericas : Neste momento, vocês têm basicamente a V.tal de cliente na área de datacenter, certo? Hannud : Certo. A V.tal é um grande cliente. Fora isso, hoje temos 1,4 GW em projetos de terrenos imobiliários, em diferentes lugares, preparados e prontos. BNamericas : O modelo de negócios de vocês, de prospectar, comprar, preparar e vender o terreno para datacenter, é parecido com o de outras empresas que estão entrando nesse jogo? Como o da Supernova, em parceria com a Mapa Investimentos? Hannud : Eles fazem algo muito parecido com a gente. Diria que a única diferença é que eles não têm um background imobiliário tão forte e uma expertise tão estruturada como a gente. BNamericas : A Mapa Investimentos tem vários projetos imobiliários... Hannud : Sim, eles sempre foram um grande investidor, fizeram grandes projetos como investimento. Mas nós somos mais executores. A gente faz, executa, cria o projeto. É um passo além. BNamericas : O que já se pode dizer do terreno de 800 MW em Sumaré? Hannud : Estamos chamando esse projeto de Data City. É um nome interno, provisório, algo que costumamos fazer para cada projeto. Estou em viagens frequentes, dentro e fora do Brasil, para conversas com potenciais clientes hyperscalers, inclusive em parceria com potenciais operadores.
Por Itrês Stretegic 23 de janeiro de 2025
Projeto é da Aurea Finvest, que já tem terreno de 680 mil m2 para a central; parecer de acesso à rede básica deve sair até o fim do ano
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